


Em tempos de crise uma das coisas que mais se proliferam são as estatísticas. É número de tudo quanto é jeito para tentar desvendar o que está havendo e o que nos reserva o futuro. Em meio a um emaranhado de pesquisas e levantamentos que são despejados na mídia diariamente, três destes procurei separar para, com o auxílio da economia, tentar compreender a dinâmica do cenário político atual.
No primeiro deles, realizado pelo IDC, mostra que o segundo trimestre do ano deve fechar com queda de 12%, com relação ao mesmo período do ano passado, na venda de celulares inteligentes, conhecidos como smartphones. É a primeira queda em sete anos, desde que este mercado vem se desenvolvendo no país, frustrando uma expectativa anterior de crescimento de 5% para o período analisado. Ou seja, 5 milhões e 500 mil smartphones que deixarão de ser adquiridos ao longo do 2015.
No segundo apontamento que trago a discussão é de que o consumo de cimento no país para este ano deve registrar uma queda entre 10% a 15%, com relação ao ano passado. Se isso se concretizar, deverá colocar o patamar de vendas como o mais baixo desde 2004. Ou seja, o menor em mais de uma década. Os dados oficiais divulgados pelo Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), só deverão ser conhecidos mais para frente, pois o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) exige que estas informações só sejam divulgados com seis meses de atraso. Poderão ser 11, 7 milhões de toneladas de cimento a menos no consumo interno do país.
Por fim, o mercado de planos de saúde registrou no primeiro trimestre de 2015, uma perda de 10,6 mil usuários, segundo levantamento da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge). É a primeira vez que se registra uma queda no mesmo período desde 2005.
Pelos indicadores trazidos à discussão, nota-se que o Brasil divido pós-eleição de 2014, entre pobres e ricos, Norte-Nordeste Sul-Sudeste, está se convergindo pelo advento da perda da capacidade generalizada de consumo e renda. A mesma crise que atinge o segmento de itens de desejo, destinada aos estratos de itens consumo mais elitizados, como os smartphones, também alcançou a nova classe média emergente, que está revendo seus orçamentos e trocando as despesas com planos de saúde pelo atendimento na rede pública gratuita, em virtude dos riscos de desemprego e aumento da inflação.
Este fantasma se visualiza na retração da demanda do mercado de cimento, que está ligada ao setor da construção civil, que é forte empregadora de mão de obra, mobiliza uma cadeia produtiva igualmente significativa, além de servir como termômetro da economia. Menos consumo de cimento, menos obras sendo realizadas, menos empreendimentos imobiliários sendo colocados no mercado, menos postos de trabalho sendo mantidos pelo setor.
O sintoma desta conjuntura econômica negativa acaba tendo direto relacionamento com a conjuntura política nacional, refletindo principalmente, nos indicadores de aprovação do atual governo. Por isso que o levantamento CNI-Ibope feito no final do mês de junho, registrou em um dígito (9%), o menor patamar de aprovação da presidente Dilma, com a maior rejeição (68%) de um Presidente da República, em três décadas.
O levantamento do CNI-Ibope é muito similar ao que o Instituto Datafolha realizou também no final do mês de junho, quando a aprovação da presidente assinalou a marca de 10%, com 65% de rejeição, revelando que independente da metodologia de pesquisa adotada pelos dois institutos, os resultados são muito próximos. “Dentro da margem de erro”.
Além da semelhança dos dados, o que mais denota essa convergência de sentimentos é a leitura da estratificação das opiniões por regiões e classes sociais. Nas camadas sociais com renda acima de 10 salários mínimos, a taxa de aprovação da presidente Dilma é de 12% e a de reprovação de 66%. Nas rendas até 2 salários mínimos, o indicador favorável é de 10% e de rejeição de 62%.
Quando olhamos o país distribuído por regiões, a situação também não é muito diferente. Os piores indicadores presidenciais estão no Sudeste com 7% de aprovação e 69% de rejeição e nas regiões que mais contribuíram com a eleição de Dilma em 2014, o Norte apresenta aprovação de 11% e rejeição de 63% e o Nordeste, aprovação de 14% e rejeição de 58%. Completam a lista a Região Centro-Oeste com rejeição de 70% e aprovação de 9% e Sul com 11% de aprovação e 63% de aprovação.
O que se percebe é que a imagem do Brasil polarizado que saiu das urnas no ano passado, começa a dar ares de uniformização, fortemente alicerçada pela crise econômica que atingiu a todas as classes sociais, demonstrando a intima ligação que o sentimento popular desenvolve com o bolso. Se há espaço para reversão do quadro? Dilma ainda possui 3 anos de ½ de mandato e está claro que precisa devolver para o povo e ao setor produtivo nacional, as condições ideais de crescimento, geração de emprego e ampliação da renda das famílias.
Alexandre Bandeira,
Consultor Político