Dos meses de tensión
3 de novembro de 2022
EDITORIAL – As instituições democráticas brasileiras são maiores do que os seus palácios
9 de janeiro de 2023

Dois para mim, um para você

Tebet e Janones foram decisivos na campanha de Lula

Tebet e Janones foram decisivos na campanha de Lula

O dia 1 para o novo presidente da República foi totalmente favorável a ele.

Apesar de uma minoria raivosa e que nunca vai aceitar os resultados das urnas, Lula desfilou em carro aberto, foi empossado e subiu a rampa, produzindo uma das imagens mais impactantes da política nacional, diante da decisão do seu antecessor, que não quis passar a faixa presidencial e deixou o país dias antes, sem data de volta.

Bolsonaro acabou levantando uma bola de ouro para o presidente Lula cortar e se projetar positivamente para o mundo, ao permitir com o seu ato, o novo presidente subir a rampa com representantes de estratos sociais das camadas mais populares e excluídas. Festa na Praça dos Três Poderes e choro nos acampamentos bolsonaristas instalados nas cercanias das instalações militares em algumas cidades do país.

Ainda em meio à festa, chegou a hora de trabalhar e empossar a nova equipe que vai ocupar o alto escalão na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. A partir daí o roteiro de previsibilidade do que será o novo governo entrou em cena.

Lula já governou o Brasil por duas vezes e o que está por vir neste terceiro mandato, não deve fugir ao roteiro. Estruturou um governo de coalizão com frente ampla de partidos para conseguir aprovar as medidas de interesse, no Congresso Nacional. O reflexo está no seu ministério com mais de 35 cadeiras, igualmente como nos governos anteriores.

Apesar de parecer que está dividindo o bolo de poder, o novo governo demonstra que o presidente que governa é diferente do candidato que disputou a campanha e se elegeu. Os casos mais emblemáticos são os de Simone Tebet (MDB) e André Janones (Avante). Os dois entraram de cabeça na eleição do presidente Lula e não receberam de volta o peso do que trouxeram para o resultado das eleições.

Simone Tebet deixou o dia seguinte do primeiro turno presidencial com 4,16% dos votos e caiu em campanha Brasil afora em favor de Lula. Janones, que também era candidato à presidência da República, chegou a ter 2% das intenções de votos e deixou a campanha ainda no decorrer do primeiro turno, para guerrear em favor de Lula no campo onde seu opositor, Jair Bolsonaro, tinha melhor desenvoltura: as redes sociais.

Sem sombras de dúvidas, Tebet e Janones elegeram Lula presidente. Sem os dois, o teto eleitoral do candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) não seria suficiente para lhe alçar ao Palácio do Planalto. Apesar de tanta relevância no pleito mais disputado da democracia do país, o governo de transição resolveu retribuir com bem menos do que mereciam.

Isso é também uma normalidade do PT, ao construir suas estruturas de poder: o de nunca dividir a parte mais importante.

Na formação do novo ministério, Lula chegou a antecipar a indicação para as pastas que mais tinha interesse: Fazenda, Justiça, Casa Civil, Relações Exteriores e Defesa.

No segundo capitulo da formação de governo, Tebet tentou ser nomeada para o Ministério de Desenvolvimento Social, que cuida de programa como o Bolsa Família. Foi vetada pela presidente do PT, Gleise Hoffmann. Sugeriram para ela como alternativa, os ministérios da Indústria e Comércio, assumido pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin e o do Meio-Ambiente, prometido para Marina Silva.

Acabou nomeada para o Ministério do Planejamento. Uma pasta muito importante, mas sem projeção popular. Vive sempre a sombra do ministro da Fazenda. É só ver no passado de quem já ocupou este ministério. João Sayad, Anibal Teixeira, Yeda Crusius, Alex Stepanenko, Pedro Parente, Miriam Belchior, entre outros. São nomes muito conhecidos da política, mas somente dela. Não vale citar José Serra, que fez projeção e nome como Ministro da Saúde.

E como já abordamos, previsibilidade é sim, o grande forte do presidente Lula. Está claro que Fernando Hadadd é o nome do sucessor do presidente, assim como ele ungiu Dilma Rousseff no passado. Assim, todos os esforços para melhorar as contas do país, serão depositadas na cesta dele. Tebet está nomeada para projetar o nome do atual ministro da Fazenda. Ela sabe disso, e aceitou. Agora está de olho no Parque dos Poderes, sede do governo no Mato Grosso do Sul.

André Janones seguiu pelo o mesmo caminho. Após as eleições, pleiteava a pasta das Comunicações, pelo desempenho que teve no combate ao bolsonarismo nas Redes Sociais, durante a eleição. Foi preterido em um acordo do governo de transição com o partido União Brasil, que indicou o desconhecido deputado federal Juscelino Filho (UB-MA) para comandar a pasta.

O Deputado federal Janones inclusive se afastou do governo de transição na área de Comunicação Social, nomeado por Geraldo Alckmin e agora luta para ter mais projeção na Câmara dos Deputados, como presidente da Comissão de Constituição de Justiça (CCJ), por onde passam todos os projetos, antes de ir a plenário. Essa semana já foi informado pelo novo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT/CE), que isso não seria possível, pois o cargo entrará nas negociações para composição do apoio ao novo governo.

Enfim, as duas personalidades políticas mais importantes para o atual presidente estão sendo vítimas justamente do jeito que o governo eleito sempre governou. Talvez, propositadamente, para não dar projeção nacional, a um nome que não seja do Partido dos Trabalhadores. Até aí, segue o já esperado: nenhuma novidade

Alexandre Bandeira é Master Consultor do Grupo Brasília de Consultoria Política, Diretor da Associação Brasileira de Consultores Políticos e professor-coordenador de pós-graduação em Análise e Marketing Político da Faculdade Republicana. É articulista e analista político para instituições, corporações e organismos de imprensa nacionais e internacionais.