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O que já está ruim pode sempre piorar

O que já está ruim pode sempre piorar

Estou há pelo menos duas semanas organizando alguns fatos para escrever este artigo. Ele nasceu fruto da observação das frágeis relações que acontecem em plena capital do país, entre o Governo do Distrito Federal (GDF) e a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). O objetivo é mostrar, por meio deste exemplo, as questões de governança política e conflitos que se espalham entre executivo e legislativo, Brasil afora. Acontece que quando acredito que todos os elementos estão bem alinhados, surge sempre um fato novo para incrementar ainda mais este assunto.

A vida do governador do DF, Rodrigo Rollemberg, nunca foi lá muito fácil, no que diz respeito a impor uma governabilidade junto ao poder legislativo local. Eleito em dois turnos contra adversários tradicionais da política na cidade, não conseguiu, porém, construir ao mesmo tempo uma base de apoio no parlamento, que pudesse chamar de sua.

Em sua coligação foram eleitos quatro deputados, sendo três deles do PDT e um do partido Solidaridade, nenhum de sua legenda, o PSB. Uma realidade bem diferente do seu antecessor, Agnelo Queiroz, que governou com uma ampla base de apoio na Assembleia Legislativa, com diversos representantes do seu partido, o PT.

Diante deste cenário, os primeiros meses do novo governo foi marcado por uma relação sempre delicada com os deputados distritais, sustentada na dependência de uma interlocução indireta, promovida pelo PDT, principalmente por meio da presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão, que era presença fácil nos eventos promovidos pelo governo local.

Os demais deputados distritais, por sua vez, sempre se queixaram do distanciamento entre o legislativo e o Palácio do Buriti. Na mesma medida, o executivo evitou ao máximo colocar em discussão, temas mais polêmicos que pudessem ser derrubados pelos parlamentares insatisfeitos. Isso sem contabilizar as críticas dos membros da oposição sobre as plataformas de campanha e o propagado rombo financeiro herdado da gestão anterior.

Se continuasse assim, já era problema demais para discutir nesta relação. Principalmente porque não dá para cada poder atuar isoladamente. De um lado, o executivo com a força da caneta e de outro, o legislativo com o peso do plenário. No meio, a população com suas demandas, queixas e necessidades.

Como uma corda tensionada, onde os seus fios vão aos poucos se rompendo, esse cabo de guerra sofreu impactos importantes que podem mudar este cenário, e trazer maiores problemas para o governador Rollemberg. Ele pode passar de figura distante junto a câmara, para persona non grata, caso não consiga sair do emaranhado de episódios ocorridos justamente nos últimos dias.

Primeiro deles foi a decisão inesperada da deputada distrital Celina Leão, que anunciou que estava rompendo com o governo. Nas suas críticas, a decisão do GDF em manter correligionários do Partido dos Trabalhadores, atuando na gestão da máquina pública do DF. Uma situação bastante preocupante, pela importância que ela vinha desempenhando em favor do executivo, dentro da Câmara Legislativa. Fato que surpreendeu o próprio PDT.

Mas para quem conhece bem o partido, sabe que o governador estava apostando suas fichas, em uma legenda com um histórico de diagnóstico recorrente. Basta observar a atitude de suas principais representações hoje no DF – os senadores Cristóvam Buarque e Reguffe. Ambos já anunciaram publicamente seus descontentamentos com atos do atual governo, exatamente como fizeram, quando compuseram a base de apoio do governo passado. Reguffe sempre foi um político pouco afeito a vida partidária. Procura sempre exercer seus mandatos em uma relação mais direta entre os seus atos e o eleitorado, numa toada do “eu sozinho”. Não hesitou, por diversas vezes, votar ou se manifestar contra a orientação do partido, caso assim entendesse que deveria ser feito, dentro de uma postura de político-independente. Foi uma das vozes mais ativas a propor no PDT, o rompimento no passado com o governo Agnelo.

Cristovam, no mesmo diapasão, reclamava em março de 2011, que não havia sido consultado sobre a nomeação da Secretaria de Educação à época. Em junho do mesmo ano, de que o novo ainda convivia com o velho, quando reclamava que Durval Barbosa, tinha deliberações dentro do governo Agnelo. Até que em setembro de 2011, o partido decide deixar oficialmente a base de apoio do governador do PT. O que acontece agora, pelos fatos e justificativas é somente um deja vú do que o PDT já fez no passado.

O ingrediente que está tornando essa premissa mais explosiva ainda, é que o problema ganhou personalidade com forma e nome dentro dos poderes. Ou seja, o assunto deixou de ser de Estado e passou a ser pessoal. Nas críticas de Celina Leão, o alvo era o super-secretário da Casa Civil, Helio Doyle, que por sua vez passou a criticar os parlamentares que queriam sabotar o governo.

Na tentativa de salvar o pescoço do governador Rollemberg, nesta relação complicada com os deputados distritais, Doyle teve que sair. Porém, ao invés de afrouxar a corda, parece que amarrou uma pedra pesada na outra ponta, quando já demissionário, insinuou nos meios de comunicação, que deputados estavam o procurando no Buriti para exercer a velha-prática do toma-lá-dá-cá, dentro das secretarias, empresas e autarquias do DF. Curiosamente, logo em seguida, vazaram áudios de reuniões dentro do Palácio do Buriti, entre o governador, secretários e deputados distritais, onde este assunto foi abordado.

Enfim, uma escalada de problemas, que a cada dia só torna a situação pior para o governador Rollemberg, nesta relação de dependência entre os poderes. A reclamação de que os parlamentares não eram ouvidos, pode ser trocada por uma CPI no Legislativo, que leve o governador a ter o constrangimento de dar explicações sobre este fato.

Se no passado o dever de casa não foi feito, precisa agora o governador restabelecer os laços com a Assembleia Legislativa, se ele desejar ter vida melhor nos próximos três anos e meio. Isso passa por escolher nomes com bom trânsito e conhecimento do parlamento para o exercício da sua liderança, reconquistar a presidência da CLDF que tem a força e a prerrogativa de colocar projetos em pauta e romper os laços com quem ainda continua azedar essa relação.

Alexandre Bandeira,

Consultor Político