


Em novembro do ano passado, ainda sob a gestão do ministro Gilmar Mendes, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou que a Justiça Eleitoral iria se antecipar ao combate das chamadas Fake News nas eleições deste ano. Em dezembro, o tribunal organizou um grupo especial para estudar o tema, inclusive sobre as experiências em outros países e anunciou a criação de um canal para que a população pudesse fazer denúncias.
Em janeiro, à pedido do novo presidente do TSE, ministro Luiz Fux, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal foram convocados para auxiliar no combate a este problema. Em fevereiro o TSE anunciou que também teria apoio dos organismos de imprensa. Em junho, memorando com as empresas de tecnologia Google e Facebook foi assinado, para tentar restringir a disseminação das Fakes News, pelas redes sociais e internet.
14 de agosto Rosa Weber assume a presidência do TSE. Dois dias depois, em 16 de agosto começou oficialmente a corrida eleitoral de 2018. Depois de três presidentes e todo um primeiro turno de campanha, o que se viu na prática foi um festival de mentiras, ataques e teorias conspiratórias que colocaram sob suspeita inclusive a lisura do pleito eleitoral.
As redes sociais e os aplicativos de mensagens se tornaram território livre para a disseminação de todo tipo de desinformação, largamente propagada não só por campanhas e defensores de candidatos e partidos, mas também por exércitos de perfis falsos monitorados por robots e internautas pagos para isso. Eleitores fakes, transmitindo Fake News, engajados para conquistar votos de verdade.
Em dezembro do ano passado o jornalismo da BBC no Brasil trouxe uma série de reportagens sob o título Democracia Ciborgue, fruto de investigações que mostravam que já nas eleições de 2014, os perfis fakes já operavam em favor de candidatos. Por detrás destes perfis, que parecem reais, com direito a fotos, históricos e interações, pessoas manipulando dezenas, às vezes centenas de contas, com o objetivo de gerar o que a psicologia chama de “Efeito de Manada”.
Passados quatro anos, todos os indícios apontam que a prática só cresceu e evoluiu. Seguramente muitas pessoas nas redes sociais mantém hoje, sem desconfiar, amizades e relacionamentos com esses robots, replicando mensagens, teses e argumentos, de maneira orgânica e natural distribuídos por estes perfis falsos.
Alguns indícios dessa presença estão nos números que são apresentados. No dia de hoje o Facebook fez um balanço em que foram canceladas 280 páginas, 280 perfis e 674 grupos que violavam as regras de autenticidade e distribuição de spam. Entre elas uma empresa brasileira de que recrutava e pagava pessoas para distribuir conteúdo de cunho político simulando ser um alcance orgânico e o maior grupo a favor de um dos candidatos, que teve 68 páginas e 43 contas, pelas mesmas justificativas, canceladas. O WhatsApp também informou que nos últimos dias centenas de milhares de usuários foram desativadas por distribuição de materiais que remetiam a desinformação, notícias falsas e spam.
Afora estas iniciativas diretas das empresas de tecnologia, a Justiça Eleitoral ainda não conseguiu apresentar um balanço representativo sobre o tema, mostrando que neste pleito que se encerra no domingo, a Fake News vai se sagrar como uma das vitoriosas.
Alexandre Bandeira – Master consultor da Strattegia Consultoria Política, Diretor da Associação Brasileira de Consultores Políticos no DF e coordenador de Pós-Graduação de Comunicação e Marketing Político pela Unicorp Brasília.